Os finalistas da EPI em visita ao “Memorial do Convento” de Mafra
Os alunos finalistas da EPI foram até ao Convento de Mafra numa visita organizada no âmbito do estudo da obra “Memorial do Convento”, de José Saramago, na disciplina de Português. Esta deslocação a Mafra foi levada a cabo pelos professores Valdemar Martins, Rodrigo Ferreira e Diogo Alhinho.
Depois de manhã livre, o extenso grupo de finalistas reuniu-se à porta do Convento para ser dividido por cinco guias que apresentaram o monumento, sempre fazendo referências à obra de Saramago. Assim, foi possível que os alunos contactassem, de alguma forma, com o século XVIII, além de desenvolverem o espírito crítico.
A atividade, que começou no exterior do monumento, terminou na famosa biblioteca do Convento de Mafra, considerada uma das mais bonitas do mundo.
Finalistas entre o Convento prometido e as personagens de Saramago
Abre-se um livro e as portas de um convento e vislumbra-se o século XVIII. As palavras que constam no início do “Memorial do Convento” dizem-nos que “D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou (…)”. Tais palavras ressoam também na praça espaçosa que se situa diante do Convento de Mafra, local onde os finalistas da EPI se reuniram para uma visita de estudo no âmbito da leitura da obra de José Saramago.
Pouco passava da hora de almoço e a manhã livre fez como que rejuvenescer as ideias dos visitantes. Nesse cirandar de liberdade, nenhum dos alunos ou professores relatou ter visto Baltasar ou Blimunda em plena vila de Mafra. Nem tão-pouco se falou dessa possibilidade, talvez por todos considerada irreal, embora saibamos que a ficção pode tratar da realidade com maior rigor e verdade do que a própria realidade.
A hora marcada da visita chegou com a naturalidade do tempo. Às 13h45, qualquer drone que sobrevoasse o espaço do Convento poderia observar, a partir das altitudes que a passarola do Padre Bartolomeu Gusmão ousou atingir, uma mancha representativa dos vários alunos da EPI.
A espera pelos cinco anfitriões da visita, embora curta, fez-se de entusiasmo impaciente. A noite ainda estava longe. A chegada dos guias, enfim, foi um alívio para os mais friorentos. O grande grupo de visitantes foi então separado em cinco pequenos grupos, um por cada guia. E novamente o século XVIII, desta vez a ressurgir vivo na voz daqueles explicadores da história do Convento, pouco antes da entrada dos alunos num monumento levantado com o peso da promessa de um rei português. E apesar de ausentes Baltasar e Blimunda, esse mesmo rei, D. João V, apareceu numa das salas de entrada do edifício, sustentado por uma moldura pregada à parede. “Este é o rei que mandou erguer o Convento de Mafra”, realçou um dos guias, com o grupo de estudantes a olhar para a farta cabeleira encaracolada pintada no retrato do quinto D. João.
De sala em sala, as paredes do Convento fundiram-se na voz dos anfitriões: “O povo foi quem pagou o desígnio de um rei. Muitos morreram durante a construção desta obra”, explicavam. Seguiram-se esclarecimentos sobre as casas de banho não canalizadas da realeza, momento onde foi explicada a logística para urinar e defecar no século XVIII, com os criados a ter uma importância de relevo. Os quartos surgiram depois e as camas largas, mas pouco compridas das personalidades da época – devido à sua baixa estatura – foram uma das curiosidades debatidas. A ampla sala de caça, com cabeças de animais embalsamados pregadas às paredes, foi abordada e olhada com a minúcia de quem se tentou transportar para o tempo dos acontecimentos. O salão de concertos e a sala de jogos foram comparadas com as existentes nos dias de hoje. Nisto, as cabeças atentas dos alunos mostraram irrequietação ao andar de um lado para o outro, na tentativa de captar cada detalhe da visita. No mesmo espaço onde a Pedra Benedictione foi levantada, conforme descrição de Saramago, surgiu, a partir de uma janela, a vista privilegiada para a Basílica do Convento. Por último, como se o percurso apresentasse uma recompensa no seu final, foi observada a biblioteca que está entre as dez mais bonitas do mundo, segundo elucidação dos guias.
Nesta última divisão, ouviu-se um estalido proveniente da madeira de uma moldura segurada por quem explicara todo o percurso até ali. Através do vidro encaixado na madeira viram-se, sem vida, duas espécies de morcego a representar os dois tipos de habitantes da biblioteca. Ainda era de tarde e a noite que libertaria os morcegos das traseiras das estantes estava cada vez mais perto, mas ainda longe. A outra noite, aquela de núpcias para rei e rainha, paira algures no século XVIII. Hoje sabemos que a “madre seca” da rainha foi abençoada por Deus. Assim nasceu D. Maria Bárbara, Infanta “gorducha” e “bexigosa”. E quando um dos guias apontou para o retrato da Infanta e perguntou a uma das alunas se era feia ou bonita, a resposta surgiu repentinamente: “É feia”. Todos os outros riram.